Sim, eu fui no Kanamara Matsuri

Domingo, dia 4 de abril, frio e nublado, cerejeiras floridas e mesmo assim o pessoal vem..


Piggy Sakura adverte: leia sem preconceito, pois se tiver, pode parar de ler por aqui, e fazer outra coisa. Só não falo proibido pra menores de 18 anos porque no local o que tinha de criança...

Feliz Páscoa, pessoal! Atrasado, mas já expliquei o motivo. O lado ruim é que novamente terei que me ausentar por mais alguns dias, pois como eu disse, estamos procurando lentamente um cafofo novo para um casal composto de um kinguio e uma leitoa rosa. Portanto, se eu estiver ausente até nos comentários, não é que eu esqueci de vocês, mas eu volto com tudo, depois do dia 15, eu espero. Mas ainda em Yokohama.

Bom, porque logo no primeiro parágrafo já tasquei esse aviso: hoje, dia 4 de abril, domingo, fui a Kawasaki Daishi, em Kawasaki (Kanagawa). Uma estação da linha Keikyu que vai para um dos maiores templos de Kawasaki. Até aí, nada demais. Só que, o menos avisado, iria estranhar porque tanta gente, casais com e sem filhos, um monte de estrangeiros e uma boa parte de mulheres, resolveu ir para o mesmo lugar.

O pessoal querendo entrar e também querendo sair. Olha como fica o templo no dia de festival...

Aí vem a surpresa pros menos avisados: no templo de Kanayama (Kanayama Jinja), anualmente, todo primeiro domingo de abril, tem-se o famoso, concorrido e desprovido de preconceitos o Kanamara Matsuri.

Logo na entrada, os primeiros souvenires. Não respondam pra mim pra que servem ...

Pra quem mora há muito tempo no Japão, mora nas proximidades e já ouviu falar do evento, o Kanamara Matsuri, na era Edo, era tido como uma benção para fertilidade e saúde (e também as prostitutas iam pedir proteção contra doenças como herpes, sífilis e gonorréia). Há uma lenda de que uma jovem que nunca conseguia casar porque na noite de núpcias, havia um demônio dentro das partes íntimas que, na hora "H", castrava os pobres rapazes. Desesperada, a jovem pediu ajuda a um monge que ajudasse a tirar o demônio dela. Foi quando ele usou um falo de metal e quebrou os dentes do demônio na hora "H".

Kanamara ou falo de ferro: foi o salvador da donzela que queria casar e ter a primeira vez mas o demônio dentro dela castrava os pobres mancebos ávidos pra consumar o fato...

Outra história que corre era o fato de sabe lá quem foi nos anos 70 deixou um pênis de gesso na porta do templo. E cor de rosa. Dizem que era de um clube chamado Elisabeth, que ficava em Asakusa. Desde então, unindo o útil ao agradável, o pênis rosa faz parte do festival, devidamente carregado pelo pessoal da comunidade através do mikoshi.
Elisabeth, o famoso falo cor de rosa deixado na porta do templo nos anos 70 e hoje faz parte do ritual.

Hoje, o Kanamara Matsuri atrai muita gente. Desde crianças até idosos, para dar saúde e fertilidade e também arrecada fundos, com a venda de souvenires exóticos, roupas e produtos, cuja renda será revertida para pesquisa contra a AIDS e outras doenças. Há também os turistas que vão por curiosidade, tal como a escriba aqui, que depois de cinco anos que soube deste festival, conseguiu ir por motivo citado e também para ter saúde, pois ultimamente estou com um resfriado e uma tosse que às vezes me incomoda.

Esse é o mikoshi do Kanayama Jinja. Sim. Na entrada do torii um falo pequeno e atrás fica o maiorzinho...

Quando eu falo que é pra ir desprovido de preconceito, é porque ao chegar na estação de Kawasaki Daishi, logo já encontramos drag-queens, pessoas fantasiadas e tudo o mais. E tudo na maior tranquilidade, sem confusão, tudo num alegre e divertido evento. E dentro do Kanayama Jinja, apesar de MUITA gente querendo entrar e sair, já começam os visitantes experimentando pirulitos em forma fálica, comprando souvenires exóticos, tirando fotos dos monumentos, principalmente o da Elisabeth, vendo o senhor esculpindo nabos em formas fálicas, todo mundo tendo que passar a mão no falo de madeira, as meninas mais desinibidas subindo em cima de um (calma, não é isso que estão pensando!)...

Nabos (daikon) esculpidos em forma fálica. Tinha horário pra ver a performance do senhor sexagenário que faz isso com a maior naturalidade do mundo...

Antes que perguntem pra mim se eu passei a mão em cima do falo, eu respondo : sim ( e também acabaram tirando uma foto minha da minha câmera eu segurando um enorme de madeira a pedido de um senhor da banquinha onde estava tirando as fotos, mas não vou publicar aqui porque não sou fotogênica) e dane-se as piadas internas. Só não subi em um que o mais famoso e muita mulherada quer tirar fotos, porque o local estava muito concorrido...

Existe gente corajosa pra tudo. Dizem que subir em cima deste falo poderá trazer coisas muito boas. Em todos os sentidos. E é tão concorrido, que até pra eu conseguir tirar essa foto, tive que erguer muito bem o braço e seja lá que Kamisama quiser...

Como em todo matsuri sempre acontece algo inusitado, se não digno de ignorância, um diálogo curioso que ouvi entre um casal de jovens brasileiros que estava atrás de mim enquanto eu (tentava) tirar as fotos do local. O rapaz, vestido como aqueles "manos" da periferia, barba por fazer, boné virado e panca "sou macho sim e daí" e a mocinha com aquelas calças de cintura que, se abaixar enxerga o cofre inteiro:

Ele: - Isso é coisa de viado!
Ela: - Mas você não quer tirar uma foto junto ao templo?
Ele: - Tá louca? Não tou a fim de passar vergonha!
Ela: - Tem que aproveitar, pois ano que vem você nem vai estar mais aqui....
Ele: - Prefiro perder isso do que me chamarem de boiola a vida toda.

Tive que ouvir isso porque no local, era tanta gente que pra andar era um passo a cada dez minutos. Por pouco eu não virei pro "mocinho" e falei que "se acha que aqui é coisa de viado, boiola, que seja, então porque está aqui, num lugar sagrado, num evento que existe centenas de anos? A porta da saída fica logo ali...", pois não estava a fim de criar confusão, ainda mais que, quem me conhece acha que sou japonesa mesmo.

Ah, mas que deu vontade, isso deu.

Kanamara Matsuri (かなまら祭り): ocorre todo primeiro domingo de abril, no templo de Kanayama, na cidade de Kawasaki, Kanagawa. Para chegar lá, na estação de Keikyu Kawasaki (linha Keikyu), pegar o trem sentido Kojima Danchi. Descer na estação de Kawasaki Daishi (川崎大師) e logo na saída, fica o templo ao atravessar a rua. Mais fácil de achar, é só encontrar um monte de gente, drag-queens, simpatizantes, assumidos, estrangeiros e gente fantasiada se aglomerando no local...

Comments

  1. Oi amiga, tudo bem?
    Já tinha visto algo sobre esse festival no blog do Ale. Achei curioso mas aprendi que os japoneses tem muitos rituais e tradições interessantes. Esse festival dura só 1 dia? E quanta gente não? Eu teria medo, não costumo ficar bem em locais muito cheios e com muita gente.

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  2. Ahhhhhh eu tinha certeza q o sumiço tinha a ver com esse matsuri rs... Vc e o namorido refugiados em algum canto com souvernirs nessa festa hein? rss

    O.o

    Bom proveito rs...

    Kisu!

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  3. Alexandre, enquanto o mundo for mundo, infelizmente existirão pessoas de má índole, preconceituosas... Mas como nem tudo está perdido, existem pessoas altruístas e até naïves (não esquentam com nada, mas também ficam na delas)...
    Olha que sua visita aqui na região de Kanto a gente (eu, Elisa, Andrea...) vai cobrar! E pro Kanamara Matsuri só no primeiro domingo de abril no ano que vem.
    Beijao e boa semana!

    Desabafando, esse festival só dura um dia, infelizmente. O local não é muito grande e quase não comporta tanta gente! Tanto que no final acabam fazendo na rua! O bom é que - salvo exceções como disse - o pessoal encara isso numa boa! Fica bem divertido. Se for sem preconceitos, vale muito a pena. Ainda mais sabendo que existe há uma boa centena de anos!
    Beijos!

    Bah, bem que namorido queria ir, mas teve que trabalhar snif. E olha que fica perto de Yokohama! Só não comprei alguns souvenires porque a fila era enorme!!! Se até pra subir em cima do falo (a última foto do post) era uma concorrência brava... Mas foi divertido, apesar de terem feito eu segurar um enorme de madeira e tiraram uma foto de mim disso...
    Beijao!

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  4. MéoDéos: esse cara é um babaca mesmo! Vc tinha sim que falar poucas e boas pro menino. Eu sou loouca para conhecer o festival. juro que brinco de touro mecânico naquilo numa boa! Quem sabe em 2011 ou 2012, quando eu juntar uma graninha...
    agora... pinto de daikon ninguém merece! Odeio! As fotos ficaram ótemas!

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